O reconhecimento já havia sido anunciado em 29 de maio, mas Lula fez questão de prestigiar o setor numa cerimônia que marcasse esse momento considerado um marco para o agronegócio brasileiro. A certificação colocou a carne nacional em outro patamar no comércio global.
Lula afirmou que o certificado irá ajudar a pecuária nacional elevar a já importante participação do agronegócio brasileiro na economia: “Nós podemos surpreender o mundo outra vez, crescendo acima da média”.
Lula também destacou que conversou com o presidente da França, Emmanuel Macron, e avisou que quer concluir o acordo Mercosul-União Europeia quando o Brasil assumir a presidência do bloco.
“Eu vou concluir o acordo definitivamente nos seis meses do meu mandato”, afirmou.
“Eu disse para ele [Macron] que, se tem problema com os agricultores franceses, vamos conversar com eles. Eu sempre defendi que essa relação comercial é uma via de duas mãos: a gente vende, a gente compra.”
O ministro da Agricultura falou sobre a importância do certificado para a expansão do comércio exterior. “O Brasil, que já exporta para 160 países, agora vai acessar os mercados mais exigentes”, afirmou.
A expectativa é que a certificação destrave acesso a mercados mais exigentes, como Japão e Coreia do Sul, que não compram carne de países que dependem de vacinação, e abra espaço para que produtos brasileiros passem a receber prêmios de preço, como os pagos a países como Austrália e EUA.
O presidente da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Jorge Viana, lembra que há duas décadas, quando governador do Acre, esteve em Paris para tratar da certificação.
“Tinha outro nome lá atrás, mas o mesmo peso, porque a questão sanitária, tanto animal quanto vegetal, é determinante para o comércio internacional de um país com o agronegócio do Brasil, e a gente perseguiu essa conquista”, diz Jorge Viana, presidente da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
“É preciso considerar que para um país tropical, com enorme variação de temperatura, e com a dimensão do Brasil, no momento em que vivemos mudanças climáticos, é muito mais difícil atingir essa conquista.”
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina, atrás dos Estados Unidos, e líder nas exportações. No ano passado, exportou 2,9 milhões de toneladas, com receitas de US$ 12,9 bilhões, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).
“A certificação para todo o Brasil é uma demonstração do compromisso do governo brasileiro e das empresas brasileiras de bovinos com a sanidade animal”, afirmou Bruno Ferla, vice-presidente global da Marfrig-BRF.
“No nosso caso, exportávamos carne de estados que já estavam livres da febre aftosa e tinham sido certificados, mas a certificação de todo o país amplia a oferta e melhora logística desse processo.”
A febre aftosa, como o nome define, provoca febre alta e aftas que se espalham pela boca, gengiva, focinho e até cascos dos animais, dificultando que se alimentem e se movam. A doença leva à perda de peso, redução na produção de leite e até morte súbita. O contágio é rápido, por isso medidas sanitárias incluem a interdição para isolamento dos animais ou mesmo o sacrifício.
A erradicação da febre aftosa no Brasil foi resultado de um esforço conjunto de mais de 60 anos, que incluiu vacinação em massa, vigilância sanitária rigorosa, controle de fronteiras e cooperação entre União, estados, produtores e organismos internacionais.
Na primeira metade do século 20, a doença era endêmica no Brasil. As campanhas de vacinação começaram nos anos de 1960 e 1970. Na década de 1990, foram instituídos o PNEFA (Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa) e as zonas de controle. Os resultados efetivos vieram a partir dos anos 2000, com vários estados eliminado a doença. Os últimos focos foram registrados em 2006, no Mato Grosso do Sul e no Paraná.
O protocolo da certificação exige que o país suspenda a vacinação e não registre nenhum caso por ao menos 12 meses antes de solicitar o reconhecimento. Cumprindo o rito, o MAPA assinou em 30 de abril do ano passado e publicou no Diário Oficial da União em 2 de maio a Portaria nº 678/2024, encerrando a vacinação em todo o país. Como não houve registro da doença, o reconhecimento internacional da OMSA de que o país não tem mais febre aftosa, mesmo sem vacinação, veio no final do mês passado.
BENEFÍCIOS DA CERTIFICAÇÃO
– Acesso a mercados mais exigentes, como Japão, Coreia do Sul e Indonésia, que não compram carne de países vacinados contra a aftosa, o que pode elevar de carnes em geral e seus derivados
– Prêmios de preço no mercado internacional, porque o produto brasileiro passa a competir em condições mais favoráveis com países como Austrália e EUA
– Redução de custos, pois a suspensão da vacinação elimina os gastos com compra, distribuição e aplicação da vacina e fiscalização. As estimativas são que a economia deve oscilar entre R$ 500 milhões a R$ 800 milhões por ano
– Melhora da imagem, o que tende elevar a confiança de produtos agropecuários em geral, facilitando negociações comerciais bilaterais e acordos sanitários com outros países
